Há pessoas que são assim expansivas e alegres, gostam de contar anedotas e fazer piadas, e isso com uma graça e um brilhantismo que podemos dizer que são palhaças, no melhor sentido da palavra, aonde chegam armam um circo. Há outras que têm o dom do ensino, são pedagogas por natureza. Sabem comunicar aquilo que conhecem com grande eficiência, aonde chegam há quem se sente ao seu redor para ouvir e receber o seu ensino. Elas vivem armando escolas. Há, ainda, aqueles cuja presença impõe uma ordem, elas motivam as pessoas a ações, a atos de coragem e heroísmo. É impressionante como são organizadas e organizadoras. Aonde chegam armam quartéis.
Mas hoje eu quero lhes falar de um quarto grupo de pessoas. O palco destas não é o picadeiro, seu material de trabalho não é a lousa, nem seguem ditando a marcha daqueles que estão ao seu redor. Hoje eu quero lhes falar sobre os que armam tribunais. Sobre aqueles que vivem colocando seus semelhantes, amigos e parentes, e não raro a si mesmos, diante de cortes de justiça.
Todo mundo para eles é um réu em potencial; eles não têm relacionamentos, têm processos; estão o tempo todo formulando ou recebendo queixas, denúncias…construindo casos; não dão opiniões, emitem sentenças. Se não são juízes por ofício, o são por vício. Faltam magistrados no Judiciário, mas eles abundam por toda parte, em casa, no trabalho, na escola e até mesmo na igreja de Cristo Jesus.
O texto que propomos no título faz parte do Sermão da Montanha e é um imperativo no sentido de que não sejamos juízes de nossos irmãos. João já nos disse que Deus enviou o seu Filho ao mundo não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele (Jo. 3:17). E o mesmo Jesus, que não encarnou na condição de juiz, nos diz que nós não devemos julgar aos nossos semelhantes.
E por que não devemos julgar os nossos irmãos?
1. Porque Deus não nos confiou esta autoridade. Assim, quem julga o seu irmão está usurpando um poder e um direito que o Pai reservou exclusivamente para si na presente dispensação;
2. Porque como irmãos somos suspeitos para exercer juízo sobre eles. Nós somos sempre família do réu, e o nosso lugar não é a cátedra de juiz, mas o banco humilhante e frio, especialmente reservado para os parentes de quem está sendo julgado;
3. Porque também somos culpados de nossos próprios pecados. Como pecadores, temos consciência que chegará o momento em que seremos julgados pelo bem ou mal que tivermos praticado. Somos réus no tribunal da graça e da misericórdia de Deus;
4. Porque o fato de sermos igualmente pecadores, impede que vejamos os pecados de nossos irmãos de forma adequada, para que possamos fazer qualquer juízo válido e competente;
5. Porque quando julgamos alimentamos o monstro das relações judicantes, que findarão apor vitimar a nós mesmos.
Alguns podem dizer que este tipo de postura estimula a impunidade no meio da igreja e finda por favorecer um tipo daninho de permissividade. Eu creio que não!
É minha função dizer que o adultério é pecado. E o adúltero? Entreguemo-lo ao Senhor. É minha obrigação ensinar que o homossexualismo é pecado. E o homossexual? Entreguemo-lo a Deus. É minha obrigação afirmar que a mentira é pecado. E o mentiroso? Entreguemo-lo a Deus.
O que torna tão difícil fazer isso, não é o zelo pela santidade e pela pureza do corpo de Cristo, é a nossa ânsia, quase irresistível, pelo exercício judicante em desfavor de nosso semelhante.
O que fazer para se livrar do hábito de armar tribunais?
1. Reconheça que o seu pecado é maior do que o de seu irmão (argueiro e a trave). Quanto mais nós nos conhecemos, mais nos damos conta de nossas fraquezas e pecaminosidade. Eu não conheço a ninguém tão bem como eu conheço a mim mesmo;
2. Dedique-se ao seu processo de santificação e não àquele que está sendo desenvolvido pelo seu irmão (tira primeiro a trave de teu olho). Cada um tem o seu próprio desafio de construção de um mundo interior mais puro e harmônico, não há tempo para sermos operários deste projeto pessoal e, simultaneamente, fiscais dos alheios. Quando nos dedicamos a esta tarefa, deixamos de lado aquela;
3. Aconselhe seu irmão sobre o que você entende ser certo ou errado, à luz da Palavra de Deus. Se necessário faça isso com uma ou duas pessoas amigas, que lhe ajudem nesta tarefa, e depois, caso ele não lhes dê ouvidos, entregue-o ao Senhor (Mat. 18:15-17);
4. Renuncie (peça demissão em caráter irrevogável) da função de juiz de seu irmão e peça perdão a Deus por durante tanto tempo ter ocupado indevidamente uma função que é só dEle. Quando no futuro se sentir tentado a voltar a julgar alguém, ou lhe pedirem para fazê-lo, diga: “Desculpe, eu não posso. Estou aposentado depois de muitos anos de serviço” 🙂
O difícil não é conhecer a Jesus, é amá-lo; o difícil não é entender a sua mensagem é acatá-la; o difícil não é saber qual é a sua vontade, mas obedecê-la. É por isso que Jesus disse que “aqueles que ouvem estas minhas palavras e as pratica é semelhante ao homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha…” (Mat. 7:
Reflita sobre as seguintes questões:
Ao julgar eu sou mais severo com o meu próximo ou comigo mesmo? Que benefício traz ao mundo estes constantes julgamentos a que me habituei? Que valor tem o juízo de quem não tem legitimidade para julgar?
Parar de julgar é como fazer uma dieta, não adianta nós nos comprometermos que não nos excederemos mais, que a partir de “amanhã” será diferente. A única coisa que resolve mesmo é parar agora, simplesmente isso.
Com carinho,
Martorelli Dantas